"Apesar de trabalharmos de forma independente como jornalistas, somos parceiros. O nosso maior concorrente é a desinformação. Não são as rádios Capital, Metrópole, CBN Cuiabá, Centro América FM , Vila Real e tantos outros veículos, mas é a desinformação". Assim discursou a jornalista, da Metrópole FM, mestre em Cultura Contemporânea e doutoranda em Comunicação e Poder pela UFMT, Julia Munhoz, durante evento intitulado “O Futuro do Jornalismo em Cuiabá”.
O evento, realizado no último sábado (19), pela Dialog Assessoria e Comunicação, contou com o apoio da Fecomércio-MT, Amaggi, Bom Futuro, Gráfica Print, Plano B e do Programa de Pós graduação em Comunicação e Poder da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGCOM), no auditório da Fecomércio, na capital.
O workshop não só reuniu jornalistas, publicitários, comunicadores, professores e acadêmicos, mas discutiu sobre a atual prática do jornalismo, que tem vivido anos de profunda crise e sob ameaça da desinformação.
Na oportunidade, teve três paineis, com diferentes temas. O primeiro abordou “O que é notícia hoje em dia”, com a proposta de mostrar fatos que viraram notícia em diferentes plataformas (impresso, site, televisão e rádio). Nesse, participaram cinco painelistas: Daniel Pettengill (A Gazeta), Francisca Medeiros (TVCA), Júlia Munhoz (Metrópole FM) e Natacha Wogel (Leiagora), além de contar com a professora e doutora em Comunicação Social pela UFMG, Mariangela Sola Lopez, que atua na UFMT, que mediou o painel.
"A notícia hoje é aquela que vem da população... O nosso desafio é filtrar. Por isso é importante ter uma equipe. Não só quem está na apresentação da bancada da rádio... Não deixe que o ouvinte ou leitor sinta-se censurado”, disse Júlia Munhoz, uma das painelistas convidadas.
Outra convidada que debateu o assunto e mostrou que está preocupada com a falta do público que “não lê” texto jornalístico em portais de notícias, após vivenciar experiências e discutir com colegas e professores da profissão, posicionando que agora o consumo dos leitores está focado em “vídeo e redes sociais”. “O consumo para acessar as páginas de sites de notícias é muito baixo. As pessoas consomem notícias por redes sociais, é aquilo que está no feed, dependendo do impacto entre um entretenimento ou algo que as chamam atenção, se elas vão ler ou não aquela notícia. Sobre o vídeo ou a imagem que envolve coisas que geram dúvidas, se é para ser noticiado ou não, por exemplo: a narração e a transcrição de uma pessoa que estava andando com um vaso de plantas, tropeçou e caiu”, pontuou a jornalista Natacha Wogel.
A professora Mariangela Sola Lopez, que ficou feliz pela realização do evento, encontrou com seus ex-alunos que estão trabalhando no mercado de trabalho, destacando que eles não esqueceram sobre o conceito de notícia. “Temos ex- alunos que fizeram a disciplina de redação jornalística comigo. É óbvio que existe o conceito de notícia tradicional, mas fiquei feliz por ver a Júlia Munhoz colocando aqui o autor Nilson Lage no final de sua fala. Mas ainda é importante e persiste”, comentou emocionada a docente, ao citar que a professora Sonia Zaramella, que trabalha no portal Eh Fonte!, também foi responsável por lecionar a disciplina universitária por muitos anos.
“A minha proposta nesta breve explanação é trazer outro olhar mais abrangente, como o plano, o processo de produção e consumo das notícias. Confesso que fiquei com vontade de interromper várias vezes, porque é gostoso dialogar sobre isso. Vou tentar mostrar esse conceito de notícias, a luz de avalanche de mutações, transformações, pelas quais a sociedade, logicamente é atividade jornalística que passa. A gente entende que a prática do jornalismo como social e cultural não poderia ser diferente. O mundo muda, a sociedade muda e as atividades jornalísticas também”, completou a educadora.
Em seguida, foi realizado o painel “Modelos de negócios de notícia”, que teve dois cases que foram apresentados: o da startup Eh Fonte, com a jornalista Adriana Mendes, e do podcast do Patroni, com o jornalista Luiz Patroni. O painel foi mediado pelo publicitário Álvaro de Carvalho, da Soul Propaganda e membro do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conarp).
Já o terceiro painel, com o tema “O novo consumo de notícias”, contou com a presença de Lucas Rodrigues, secretário adjunto da Secom-MT, Cícero Mariano, gerente de Comunicação Institucional da TVCA e do portal Primeira Página, e Thiago Cury, professor Dr. e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFMT. A mediação foi proferida pela jornalista e empresária Camila Bini, que surpreendeu a todos em seu discurso.
“O trabalho da Dialog completa 18 anos de fundação. Quanto a minha trajetória como jornalista, eu menti e não vou mediar nada. Isso é uma fake news. Temos um cenário que a realidade é desafiadora, mas eu não conheço nenhuma pessoa aqui que foi bem sucedida, que não passou por isso, com dificuldades. A ideia desse evento, além de ser um grande exercício do diálogo, mostra que é possível sentar e ouvir”, afirmou a proprietária da Dialog
Em relação ao mercado a empreender, Camila disse ainda que “se você não tiver um vínculo visceral com compromisso de garantir, pela informação qualificada à democracia, você está num lugar errado. Porque não vai ser fácil, não será saboroso, às vezes, é possível. Então, esse evento traz uma reflexão”, concluiu.
No final, a organização do evento quebrou o protocolo da programação e convidou a jornalista Sonia Zaramella para fazer um discurso ao jornalista e professor aposentado da UFMT, Airton Segura, falecido há quase um mês.
Outros participantes e ouvintes que estavam no auditório, também comentaram sobre a oportunidade.
"Foi um momento importante de debate. Pois em Cuiabá, Mato Grosso precisa avançar na forma de fazer jornalismo, como foi citado pelos "painelistas". As pautas foram bem exploradas e deram início ao debate. Precisamos avançar ainda mais para o âmbito da integração de jornalista veiculado às mídias digitais. Ficou claro que o jornalista de antes precisa ser reavaliado, não perdendo o time da fonte, busca da informação correta, mas que o profissional precisa se modernizar e buscar interagir mais com a realidade digital", pontuou a jornalista Ana Barros
"Gostei muito do evento, com discussões interessantes e que debateram o cenário do fazer jornalístico e de como os profissionais precisam se adaptar para o novo jornalismo. Nota 10!", comentou a jornalista Thalita Amaral
“Eu gostei do evento, só achei que faltou mais profissionais negros na mesa de painéis. Não me senti completamente representando”, disse o jornalista Alex Rodrigues.
"O evento foi muito bom e importante, pois uniu profissionais que estão atuando no mercado de trabalho e àqueles que estão na academia. Ajudou na discussão sobre as formas de trabalho que têm sido executadas na profissão. Porque às vezes não paramos para fazer esta análise. Como temos levado as notícias ao nosso público, aos leitores e cidadãos? Acredito que as notícias são importantes para a construção de uma sociedade", ressaltou o jornalista Jolismar Bruno.